PREFÁCIO
Filho e neto da boa educação,
Quem me conhece bem fica admirado
E até eu me sinto envergonhado
Deste livro que agora tens na mão.
Mas tudo tem a sua explicação:
Gerado nas margens do rio Sado,
Herdei dum tal Bocage o tal bocado
De correr a canalha a palavrão.
E este tempo de vil gente, amoral,
É filho do doutor da mula ruça
Que nunca distinguiu o Bem do Mal.
Mas os versos assim dados na fuça
Não são para ninguém em especial,
Só pra quem enfiar a carapuça.
Ponte de Sor, 14/10/05
BOCAGE
Bocage, meu irmão, quão semelhante
Acho teu fado ao meu quando comparo
O mundo em que viveste, um tempo avaro
Onde a gente corrupta era abundante.
Como tu, vivo triste e emigrante
Numa terra onde nada me foi caro;
Como tu, vivo preso e sinto o faro
Dum destino infeliz e sempre errante.
Às musas do teu Sado, a minha prece
Pra que me dêem garra e inspiração,
Que sempre nos teus versos aparece,
E pra que a minha boa educação
Não me impeça de dar em quem merece
Ou me iniba de usar o palavrão.
Ponte de Sor, 29/10/05